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Entrevista | Jorge Bornhausen diz que Bolsonaro sofre influência maligna de Olavo de Carvalho e vê Moisés com paralisia administrativa

Por: Marcos Schettini
21/12/2019 16:53 - Atualizado em 21/12/2019 17:00
Axe Schettini/LÊ

Um dos político mais respeitados do Brasil, o ex-governador e ex-senador Jorge Konder Bornhausen continua sendo consultado por importantes lideranças quando o assunto é o futuro do país. Influente e poderoso nos Governos Sarney e FHC, Bornhausen despacha de São Paulo e Florianópolis, cidades das quais intercala seu dia a dia, 12 anos após deixar o mandato de senador, que encerrou em 2007.

Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, JKB avaliou o primeiro ano do Governo Bolsonaro com desempenho abaixo do desejável, definindo que houve erros por falta de diálogo correto e ataque à classe política. Elogiou o trabalho dos ministros Paulo Guedes [Economia], Tereza Cristina [Agricultura] e Tarcísio Freitas [Infraestrutura], embora o presidente Jair Bolsonaro, segundo ele, tem posições equivocadas com influência maligna do guru Olavo de Carvalho. Também, taxou como funestas as indicações de Abraham Weintraub [Educação] e Ernesto Araújo [Relações Exteriores].

Ainda, classificou o coronel Araújo Gomes [comandante-geral da PM e secretário de Estado da Segurança Pública] como a revelação do ano em Santa Catarina e afirmou que o governador Carlos Moisés, por “provável timidez e inexperiência” causa estragos ao Estado. Confira:

Marcos Schettini: Após um ano dos governos Bolsonaro e Moisés, qual sua leitura da atuação política de cada um?

Jorge Bornhausen: Sob o ponto de vista da atuação política, ambos tiveram um desempenho abaixo do desejável. O presidente para agradar seus eleitores mais fanatizados, iniciou o governo atacando a classe política de forma generalizada e equivocada, como se ela toda fosse corrupta. Procurou disseminar a ideia que havia uma “nova política” detentora de todas as virtudes e uma “velha política”, dominada pelos corruptos. A sua seria a primeira e a dos não aliados a segunda. Na realidade, o que existe é a “má política” e a “boa política” e esta não é propriedade de ninguém e não se encontra em apenas um partido. Bolsonaro não compreendeu a política em si, que na definição clássica é “a arte de governar”. Poderia, por isso mesmo, ter avançado mais, no bem elaborado “projeto Guedes”, se tivesse procurado um diálogo correto, honesto e necessário com as principais lideranças do Congresso, sem as desprezar.

O governador Moisés, provavelmente por timidez, inexperiência e sem conhecimento razoável das pessoas do nosso Estado, trilhou o mesmo caminho, é bem verdade que sem agressões. Mas este seu comportamento arredio, transpareceu como um desprezo à classe política catarinense, o que lhe trouxe dissabores, na sua difícil relação com os integrantes do Poder Legislativo estadual.

No campo administrativo, o presidente Bolsonaro, apesar do seu destempero, de suas posições equivocadas na política externa, das intervenções extemporâneas de seus filhos e da influência maligna do guru Olavo de Carvalho, conseguiu mais, graças a extraordinária capacidade de alguns de seus ministros como a da Agricultura, Tereza Cristina; da Economia, Paulo Guedes e da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. O lado mais negativo ficou por conta do ministro da Educação e das Relações Exteriores, indicações, funestas, do pernicioso Olavo de Carvalho.

O governador Moisés, por sua vez, mostrou seu total desconhecimento da economia catarinense ao tentar implantar o “Imposto Verde”, que causaria forte impacto negativo no nosso setor de agroindústria e que, em boa hora, foi rechaçado pelos deputados estaduais.

Ambos, sem qualquer experiência administrativa, usaram o 1º ano para um verdadeiro aprendizado, causando atrasos ao país e ao Estado.

Em Santa Catarina, o aprendizado foi pior e nos levou à uma preocupante paralisação administrativa. Apenas, graças a uma excelente atuação do secretário de Segurança Pública, conseguimos significativo avanço, por obra e criatividade do coronel Araújo Gomes, a maior revelação do ano.

Vamos torcer, como catarinenses e brasileiros, que vencido estes estágios probatórios, os dois governantes possam ter melhor atuação em benefício do nosso Estado e do Brasil.

Jornalista Marcos Schettini em conversa com o ex-governador Jorge Bornhausen, em seu apartamento, em Florianópolis

Schettini: Lula da Silva e Jair Bolsonaro falam muito mal da Globo. Por quê?

Bornhausen: A Rede Globo comete os seus pecados, mas não podemos esquecer que a imprensa livre é absolutamente necessária para a vida democrática dos países.

Portanto, a atitude do ex e do atual governante não é a mais correta, a resposta não deverá ser a de perseguir, mas sim a de proceder juridicamente quando forem cometidos abusos criminosos.

Schettini: O senhor disse que a eleição em Florianópolis não está decidida. Ela deveria estar?

Bornhausen: É evidente que o quadro para eleição de Florianópolis ainda não está definido e, por isto, é sempre ruim afirmar que o vencedor será este ou aquele.

Schettini: O centro, como opção política, é a antítese das extremas esquerda e direita em quais lideranças?

Bornhausen: Sou contra radicalismos, eles sempre terminam mal, entendo que o caminho correto na política é do equilíbrio e do diálogo. Não considero adequada, mas sim ultrapassada a divisão das ideologias se caracterizarem por direita, esquerda e centro, estas palavras nada traduzem a política em termos ideológicos.

Assim sendo, minha opção política é pelo liberalismo com visão social, já que vivemos em um país com extremas desigualdades entre as classes sociais. Entendo que o crescimento tem que ser acompanhado pela diminuição das desigualdades, o que se faz pela atenção do Estado às classes menos favorecidas e por um grande esforço na melhoria da Educação. Em recente palestra que assisti no “Encontro dos Líderes”, o apresentador Luciano Huck, com toda propriedade afirmou: “que a verdadeira igualdade de oportunidades só acontece quando o ensino fundamental público tiver a mesma qualidade do ensino privado”. Concordo inteiramente.

Vejo despontar com estas ideias os governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o do Paraná - Ratinho Júnior, a ministra Tereza Cristina e o já citado Luciano Huck.

Schettini: A Novembrada ocorreu há 40 anos e o senhor era o governador. O que há de verdades e mentiras daqueles dias?

Bornhausen: A chamada “Novembrada”, episódio que já descrevi na minha biografia monitorada com seus detalhes, foi um ato de insensatez do presidente Figueiredo, que ali mostrou que não estava preparado para fazer a transição democrática, o que acabou acontecendo pela criação da “Aliança Democrática”, formada pelo MDB e a Frente Liberal, que com muita honra ajudei a criar, tudo à revelia do referido presidente.

Schettini: Paulo Guedes, assim como Eduardo Bolsonaro, lembraram a necessidade de outro AI-5 caso os efeitos da América Latina chegarem ao Brasil. Por que este sentimento renasceu?

Bornhausen: Foram comparações infelizes e o ministro Paulo Guedes, que é o mais sensato, pediu as devidas desculpas.

Schettini: A Tríplice Aliança morreu ou pode nascer nas eleições de outubro?

Bornhausen: A cada eleição as alianças políticas acontecem. A Tríplice em 2018, no nosso Estado, não prevaleceu pela vaidade de alguns dirigentes dos partidos que a formaram. O resultado foi a da vitória de alguém que não tinha experiência política, nem administrativa e que nos levou no 1º ano a um estágio de paralisia administrativa.

Schettini: Quando FHC disse que votaria em Fernando Haddad, é por que Jair Bolsonaro seria o quê?

Bornhausen: Só o presidente FHC poderá explicar o seu voto, eu poderei esclarecer as razões das minhas escolhas. Votei no primeiro turno no ex-governador Geraldo Alckmin, por ser o candidato mais preparado e no segundo em Jair Bolsonaro, por exclusão, pois não poderia de maneira nenhuma votar no outro candidato, já que era apoiado pelos ex-presidentes Lula e Dilma, que instituíram no país um mar de corrupção.

Jorge Bornhausen foi fundador do PFL (atual DEM), senador, governador, ministro e embaixador do Brasil em Portugal

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